Grossário


Você não quer desfrutar do melhor da ficção científica, e se sentir num mundo estranho, e tentar descobrir por você mesmo como ele é. Uma vergonha. Como, além de caixa, eu faço bico como narrador onisciente, e só porque o Contente insistiu, vou te dar uma explicação bem mastigadinha:

O ano é 2049, o Brasil acabou de sair de um regime fundamentalista cristão, que durou de 2018 a 2043. Esse regime, que chegou ao poder pela via eleitoral, foi se radicalizando com o tempo, até que estabeleceu censura (com o argumento de luta contra a cristofobia), instituiu um programa de cura gay, criou uma igreja oficial, perseguiu todas as outras religiões e se baseou por um bom tempo em violência de base fomentada nas igrejas contra a oposição.

Os fundamentalistas reformularam a educação pública, colocando só matérias profissionalizantes e passando a cobrar por matéria, de forma que aprender história, filosofia, artes etc, era possível, mas existia censura religiosa e era exigido pagamento além da mensalidade básica. Quem faz essas matérias é malvisto e tem a pecha de ser doutrinado.

A oposição socialista se reorganizou no Uruguai (algumas revoluções começaram a acontecer, principalmente no mundo árabe, depois de 2030 – foi o “segundo tempo” da primavera árabe, e o Uruguai estava com um regime socialista), mas quem conseguiu hegemonizar a derrubada do fundamentalismo foi a direita neoliberal. A oposição socialista se burocratizou depois de tal forma, que as próprias manifestações são formadas por militantes pagos.

Por isso, as primeiras medidas do governo foram de privatização generalizada, que se somou com a precarização do trabalho na época fundamentalista. A própria polícia foi dividida entre grupos empresariais - a Dove (qualquer semelhança com qualquer empresa é mera coincidência, já que a gente não quer tomar o processinho) aparece mais nas histórias, mas existem vários - e passou a funcionar como uma milícia oficial. A saúde pública acabou. O transporte é quase todo privado, e o veículo principal é o aero, que é um drone adaptado para um ou dois passageiros.

O tráfico de drogas ficou ultrapassado com as novas tecnologias, usar as drogas antigas tem estigma social de morador de rua, como se fosse hoje usar cola ou benzina. A forma principal de tráfico é a de tecidos e células-tronco para transplantes e usos em biotecnologia. O Brasil, sendo um país dependente da China e, em menor medida, dos EUA, é um mero fornecedor de matérias-primas pra esse tipo de tecnologia. Os traficantes usam equipamentos importados, como o medfone, que é um aparelho que faz a maioria das funções laboratoriais e de exames.

O Facebook evoluiu para o Mapa, que é uma rede social de realidade aumentada, que recobre o campo visual do usuário. O hardware do Mapa é um implante feito nas têmporas, que é usado por quase todas as pessoas, mas que os fundamentalistas radicais consideram como sendo a marca da Besta. No Mapa, existem todos os serviços da internet, inclusive ilegais, encriptados. As novas drogas são eletrônicas, que alteram a interface do Mapa e agem estimulando os centros cerebrais, a mais usada é a 3.2 (ou seja, a versão 3.2 da primeira droga eletrônica criada). O efeito a longo prazo das drogas eletrônicas é borrar a fronteira entre realidade e virtualidade, é o que na gíria é andrar (andar + androide).

O aquecimento global é irreversível e descontrolado, já tendo atingido a área costeira de várias cidades do Brasil. As medidas paliativas são de geoengenharia, por exemplo, usando produtos alcalinos para corrigir as chuvas ácidas ou jogando substâncias no alto mar para diminuir a temperatura. É um campo de alta lucratividade para as empresas.

A maior oportunidade de ascensão social é através dos reality shows, e o mais famoso deles é o Volta por Cima, que se passa numa plataforma flutuante em que as pessoas sorteadas disputam pela oportunidade de morar.

Vou explicar mais nada não.

De nada!

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